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    22/04/2014 Livia Rangel

    “A burrice e a lerdeza ganharam essa batalha”. Neta de Caymmi critica ausência de celebrações nos 100 anos do avô


    Dorival Caymmi, o poeta do mar, faria 100 anos dia 30 de abril

    Em 30 de abril de 1914 nascia o menino Dorival Caymmi, que, ao lado de Jorge Amado, viria a ser um dos maiores representantes das imagens que hoje o mundo conhece da Bahia. O cantor, compositor, violonista, pintor e ator, cantou o amor ao mar e à sua terra natal como ninguém.

    Ao versar sobre os costumes do povo da Bahia, ajudou a impulsionar a carreira internacional da ‘pequena notável’ Carmem Miranda, com “O que é que a Baiana Tem”, a partir do filme Banana da Terra, de 1938.

    Passado um século de histórias praieiras, samba, amor e saudade, parcerias de sucesso com mestres como Vinícius de Moraes, Tom Jobim e Jorge Amado, e após imortalizar clássicos da MPB, a família Caymmi – incluindo a sua neta, a cantora Alice Caymmi, filha de Danilo Caymmi – vem tentando, em shows celebrativos, manter a memória viva deste que é um dos maiores poetas da música popular brasileira.


    Alice Caymmi ao lado do pai Danilo Caymmi

    Descaso
    Em entrevista à Eleven Culture, Alice fala da relação com o avô e desabafa ao denunciar o descaso com a memória do artista. Ela reclama da falta de iniciativas educativas e culturais em torno do centenário do compositor, em especial na Bahia, onde, de acordo com Alice, até agora parece não haver nenhuma comemoração oficial em homenagem ao centenário do autor de “Saudade da Bahia”.

    A jovem artista vem, desde o início desse ano, apresentando pelo país o show “Dorivália”, um dos únicos projetos celebrativos aos 100 anos de Caymmi, e que deve ser apresentando em Paris (ainda sem data confirmada). A cantora também vem mostrando seu canto e voz de timbre grave em disco autoral homônimo, com regravação de Bjork e homenagem a Caymmi. 

    “Meu avô era um senhor de presença imponente e sagrada.
    Contava histórias e era muito doce”

    Dorival morreu em 2008, aos 94 anos, no Rio de Janeiro, após uma luta de 9 anos contra o câncer. Conhecido pela produção “artesanal” de suas músicas, entre as pouco mais de 70 que compôs, Caymmi emplacou sucessos imortais como “Saudade da Bahia”, “Samba da minha Terra”, “Doralice”, “Marina”, “Modinha para Gabriela”, “Maracangalha”, “Saudade de Itapuã”, “O Dengo que a Nega Tem”, “Rosa Morena”.

    Ouça íntegra do primeiro disco de Caymmi, Canções Praieiras (1954): 

    Confira a entrevista com Alice Caymmi:

    Lívia Rangel – Como era a sua relação com Dorival Caymmi. Que tipo de avô ele era?
    Alice Caymmi – Ele era um senhor de presença imponente e sagrada. Contava histórias e era muito doce, gostava muito de crianças e eu gostava de fazer carinho na cabeça branca dele.

    Lívia – Caymmi versou a Bahia e as magias do mar como ninguém. Mas recentemente, você deu uma declaração em que se queixava da suposta falta de interesse e de iniciativas culturais na terra natal do seu avô, na iminência do seu centenário. A situação continua a mesma?
    Alice – Ainda. Infelizmente a burrice e a lerdeza ganharam essa batalha.

    Lívia – Durante esse Carnaval você encabeçou uma homenagem a Caymmi com o show Dorivália, em que mistura Dorival Caymmi, rock´n´roll, axé e tropicália. Fala um pouco desse projeto.
    Alice – Esse show me trouxe muito retorno positivo da crítica e do público e a repercussão tem sido positiva. Todos os shows até hoje foram grandes experiências prazerosas e ricas.

    Lívia – A canção “O que é que a baiana tem?” de Caymmi foi a responsável pelo sucesso e projeção internacional de Carmem Miranda em Hollywood. Existe alguma ação prevista para o mercado exterior, dentro das comemorações dos 100 anos de Caymmi? 
    Alice – Sei apenas do “Dorivália”, que provavelmente vai a Paris.

    Lívia- “O Dorival é um gênio. Se eu pensar em música brasileira, eu vou sempre pensar em Dorival Caymmi”, disse uma vez Tom Jobim. Você acha que o Brasil dá o devido reconhecimento e preserva a memória da obra de Caymmi?
    Alice – Não. Nunca deu. E também acho que não vai ser agora. E se não é agora imagina daqui pra frente.

    Ouça a faixa “Arco da Aliança” do disco de estreia de Alice Caymmi:

    Lívia – Quais ações celebrativas estão previstas para esse ano?
    Alice – Não tomei conhecimento de tudo, mas sei que os irmãos Nana, Dori e Danilo fazem um show lindo!

    Dia 30 de abril, aniversário de 100 anos de Caymmi, é dia de reforçar a memória viva da cultura brasileira e espalhar, em forma de verso e prosa, a importância desse mestre do cancioneiro popular brasileiro. A ElevenCulture.com está pedindo para os seus leitores que enviem para o e-mail redacao@elevenculture.com vídeos, textos, fotos (pode ser uma declamação em vídeo, um trecho de música tocada no violão, uma ilustração de sua autoria etc ) para o especial #100anosdeCaymmi. Participe e ajude a Eleven a difundir essa campanha. 

    Livia Rangel

    Filha da Bahia, radicada em Berlim. Jornalista, empreendedora, editora-fundadora da ElevenCulture.com e diretora da Agência Lira. Bacharel em Jornalismo, mestre em Comunicação Corporativa (Unifacs) e especialista em Marketing Digital (Udacity). livia@agencialira.com

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