“Quanto mais purpurina melhor”, já dizia Gilberto Gil em “Realce”. Nesta quarta-feira (30), uma novidade chegou, direto do interior da Bahia, trazendo pela internet um novo frescor para a música pop independente. O cantor e compositor Achiles lança seu primeiro videoclipe em carreira solo, “Mar de Refrigerante”. A Eleven bateu um papo com o artista (confira a entrevista logo abaixo).
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No vídeo, assinado pelo premiado casal de videastas Edson Bastos e Henrique Filho, o artista, natural de Maracás (BA), se joga na dança para celebrar, segundo ele, o surgimento de uma nova geração LGBT no caldeirão fervente da música brasileira.
Em “Mar de Refrigerante” espere ver na tela muito neon, colorido, brilho, coreografias ensaiadas e LED. O clipe foi filmado no Trapiche Pequeno, em Salvador, e traz ainda a participação de nove bailarinos da Companhia de Dança Robson Portela da cidade de Jequié.
“Em aproximadamente 01 ano, nos reunimos por diversas semanas com Achiles para analisar o cenário, definir a música e o conceito do clipe. Uma música muito contagiante, contemporânea e repleta de possibilidades visuais. Mas buscamos dar o tom do clipe através da ironia, que já existia na música, para que o clipe também fosse parte dela. Foi um belo desafio construir esse clipe com Achiles e com toda a equipe”, conta o diretor Edson Bastos.
“Mar de Refrigerante” é o primeiro single de Achiles e compõe o primeiro EP solo do artista, com previsão de lançamento para Janeiro de 2017.
ENTREVISTA – ACHILES
Lívia Rangel – Depois de assumir o vocal da banda Caim, porque a ideia de seguir em carreira solo?
Achiles – Este novo momento tem muito de minha necessidade pessoal de afirmação, de dar visibilidade pra alguns questionamentos sobre a existência e de reunir expressões de minha personalidade com o meu trabalho com música. Acho que renasço dentro de minha própria história neste momento e precisava adequar minha relação com a música neste processo.
Lívia – A nova música produzida no Brasil vive um momento muito rico, com artistas independentes chegando em lugares onde antes era quase impossível. Como tem sido o processo de gestão da sua carreira?
Achiles – Tenho tentado lidar seriamente com o acúmulo de funções inerente à condição de ser um artista independente. Gosto de pensar sobre tudo, desde a criação até a divulgação das obras, mas nada disso é possível sem a colaboração de pessoas que acreditam e chegam junto pra somar. Estou dando um passo de cada vez e adequando a gestão para as necessidades que vão surgindo.
Lívia – Você é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Memória Social da UNIRIO e desenvolve uma pesquisa sobre a profissionalização de artistas populares. Fala um pouco sobre esse estudo…
Achiles – Minha pesquisa analisa os efeitos dos processos de profissionalização para os artistas que representam a cultura popular, sobretudo o samba de roda. Busco compreender a chegada destes artistas no palco, o diálogo que mantêm com produtores e leis de incentivo, e de que forma esta realidade mercadológica e burocrática repercute na permanência, na transmissão e nas transformações na cultura popular na modernidade. A pesquisa está em andamento e eu espero apresentar minhas conclusões no início do próximo ano.
“(…)estou consciente do peso que carrego por ser diferente, por ser um gay do interior da Bahia, e me mantenho alheio ao compromisso de fazer dessa diferença o único lugar de abrigo para minha música”
Lívia – Ao mesmo passo em que boa parte da sociedade brasileira “encaretou” – com essa onda reacionária que invadiu o Brasil – existe, no campo das artes, o despertar de uma geração maravilhosa de artistas que levanta a bandeira LGBT, como Liniker, Jaloo, Lineker, Johnny Hooker… Como você enxerga seu trabalho nesse cenário?
Achiles – Eu me sinto muito honrado em ser parte de uma geração de artistas que tem em suas identidades sexuais a porta de entrada para a música que fazem. A grande novidade desta geração para as anteriores é que a identidade sexual híbrida e não heteronormativa dos artistas deixou de ser apenas uma excentricidade. Grande parte do público que acompanha estes artistas se identifica diretamente com a maneira como eles se comportam, como pensam e como vivem.
Enxergo meu trabalho com esta mesma abertura e estou consciente do peso que carrego por ser diferente, por ser um gay do interior da Bahia, e me mantenho alheio ao compromisso de fazer dessa diferença o único lugar de abrigo para minha música. As pessoas têm autonomia para me ouvir por se sentirem representadas politicamente e também têm autonomia para me ouvir apenas por gostarem do som que faço.
Lívia – Depois do lançamento do EP, quais os seus planos para este trabalho solo?
Achiles – Pretendo trabalhar com o EP no início de 2017. Minha expectativa é que façamos shows e circulemos por aí afora. Quero poder com isso acumular recursos para a gravação do meu primeiro disco, que tem previsão para o segundo semestre.