Por Luana Bistane, direto da Polônia*
Entre os dias 25 e 29 de outubro, Katowice, na Polônia, recebeu a edição 2017 da WOMEX – the World Music Expo. Durante 5 dias, a cidade polonesa viu transitar mais de 2.500 profissionais representantes de 90 países – entre eles, o Brasil.
Entre os showcases apresentados, com artistas garimpados em diversas partes do mundo, o Brasil foi representado pela sonoridade afropunk da banda paulistana Metá Metá (confira, em breve, a entrevista realizada com a banda).
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Foram 07 palcos, 700 empresas participantes, palestras, filmes, shows de abertura e premiação de encerramento, compondo o que é considerado a maior plataforma de networking para a indústria do World Music.
São 05 dias de imersão, onde a descoberta não se traduz apenas na música, caminhar 200 metros representa cruzar a fronteira de novos idiomas, cores e sabores que vão traduzindo cada uma das múltiplas formas de entendermos nossa humanidade.
WOMEX 2017
Fosse apenas um lugar de celebração, trocas e experiências, preencheria todas as expectativas, mas o curioso é a sensação que de alguma forma, quando se traduz em impactos efetivos na indústria musical, ou melhor dizendo, no mainstream da música, essa diversidade não deixa de estar, em muitos termos, encerrada dentro dos limites que demarcam o território mundo da WOMEX.
Veja como foi a cerimônia de abertura da WOMEX 2017, na Polônia:
Embora a própria existência da feira seja uma grande e fundamental conquista, ela também parece simbolizar a luta por preservação e circulação da maioria das culturas do mundo, ali representadas na música. Artistas de toda parte, que cumprem sonhos e traduzem linguagens simbólicas tão ricas quanto inacessíveis ao grande público.
“O evento é, sem dúvidas,
um encontro vibrante,
um espaço que emociona
por transbordar a riqueza da
diversidade cultural mundial”
Passamos a entender um pouco melhor este cenário, nos transportando ao surgimento do termo World Music, criado na década de 60, por Robert E. Brown, e com projeção internacional no final dos anos 80, quando a utilização de elementos musicais desconhecidos das culturas anglo-saxônicas, trouxeram um desafio a indústria da música: estabelecer um rótulo que fosse suficientemente abrangente para enquadrar tudo que se referia as músicas tradicionais e elementos sonoros representativos de todos os outros povos.
Desta forma, conteúdos tão diversos quanto dispares foram colocados dentro da prateleira chamada World Music, uma prateleira que caracteriza toda forma de expressão considerada tão distante que sequer é enxergada e reconhecido pela sua distinção, singularidade.
“(…) é fundamental uma reflexão
sobre quais caminhos serão precisos
serem traçados para transpormos
as fronteiras da World Music”
Como sugere o colunista do The Guardian, Ian Birrell, este termo, passados mais de 30 anos, não está apenas datado, como acaba sendo ofensivo a riqueza que encontramos na diversidade da música produzida.
Isto porque ao enquadrar também estigmatiza, e não colabora para romper com as barreiras hegemônicas que ainda são impostas e que dificultam a efetiva circulação de conteúdos diversos, seja por uma questão idiomática, de difusão ou simplesmente porque seus elementos musicais são tão pouco conhecidos que geram estranhamento e consequentemente dispersão da audiência.
Saindo da catarse que é vivenciar a experiência WOMEX, é fundamental uma reflexão sobre quais caminhos serão preciso traçar para transpormos as fronteiras da World Music, e conquistarmos a fragmentação deste rótulo em identidades culturais representativas das singularidades e de todas as infinitas misturas possíveis no encontro entre povos.
Sobre a autora
Formada em Comunicação e Produção em Cultura pela UFBA e Mestre em Gestão em Economia Criativa pela URJC- Madrid, Luana Bistane fica sediada em Lisboa.
Com larga experiência em políticas públicas de cultura, foi diretora executiva da Orquestra Sinfônica da Bahia. Suas experiências profissionais incluem também a produção da turnê “Concerto de Cordas e Máquinas de Ritmo” do renomado cantor Gilberto Gil, a produção da Semana de Moda da Bahia, festivais de Teatro, Dança e Música, gestão de carreira artística, dentre outros. Atualmente é Diretora Criativa da LadoBe Creative Agency, e business developer da startup Brigde for Billions.
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