O jornalista e químico Álvaro Pereira Júnior, colunista da Folha de São Paulo, para criticar a política cultural do Sesc, que promove acessibilidade às artes e cultura em todo território brasileiro, resolveu numa só tacada atacar, além do próprio sistema de subsídios do Sesc, a chamada Nova MPB e artistas consagrados do rap nacional como Emicida e Criolo. E a reação de leitores, fãs e artistas ecoou pelas redes sociais.
No texto intitulado “Racionais e Criolo, planetas diferentes”, publicado na edição do dia 03 de janeiro, se encontram frases provocativas como: “Tenho dúvida se a cena da “nova MPB” da qual Criolo faz parte existe nesse mundo de verdade” (comparando aos shows lotados e sem subsídios dos Racionais MCs).
Parecendo ainda não enxergar o atual reconhecimento dos artistas citados em âmbito nacional e internacional, e associando a nova geração da MPB a uma total dependência do Sesc, bem como de uma suposta ausência de público, Álvaro continua: “Mas fazer sucesso no Sesc é fazer sucesso de verdade?”.
Em resposta à crítica do colunista, o rapper Emicida publicou um desabafo em sua página oficial na rede social Facebook, em que ele fala sobre sua trajetória e os seus 10 anos como artista independente.
Leia resposta de Emicida na íntegra:
“Pode falar mal pra caralho mas quero ver vender 10 mil cds de mão em mão, montar o próprio selo e produtora e ser referência nacional e até internacional…
Hoje ta mais fácil ate ser independente tem algumas formas de ganhar grana no digital, não sou velha guarda mas da onde, na época, e como saímos isso não existia.
Vai rodar o país inteiro, se apresentar nos maiores festivais do mundo e se manter auto sustentável e independente, inspirar tantos jovens e uma cena toda a fazer o mesmo… Depois de quase 10 anos de carreira, sendo 5 na estrada estrada com empresa montada nunca dependemos de editais nem Tão pouco nos aproveitamos do Sesc para rodar o país, Sesc nunca foi e nunca será nossa unica fonte de renda e/ou circulação. Sim é um Braço importante para todos não só para os músicos…
Esses caras até hj ainda não entenderam que noiz é muito mais que tênis colorido e batida no estéreo.
Tô aqui pra me gabar não, mas para debater tem que conhecer a história e para isso amigo você precisa ir muito além do que só um show do Racionais no Espaço das Américas e um show do Criolo “Ex Sambista” no sesc vila mariana.
A música Brasileira ou a “Nova MPB” como vcs mesmo gostam de rotular merecem muito mais que isso, O Rap e até a Plataforma que é o Sesc também, um assunto tão importante e essencial que discutimos na industria de maneira séria sendo usado e analisado toscamente e tendenciosamente por Jornalista oportunista e Borra na Tanga.
Em 2015 eu espero mais de mim e tb de vocês vamos prometer que não vamos mais dar atenção pra esse tipo de gente por favor… Nem ia falar nada mais recebi vários inbox, marcações e o escambal e na boa:
Temos História pra contar e sorrisos e lágrimas pra dividir, muito mais sorrisos que lágrimas, então bola pro mato que o Jogo é de campeonato.
Noiz é mais, O Racionais é mais, Criolo é Mais o Rap e o Hip Hop são foda, enquanto eles falam a gente trampa e assim vai ser, sempre…Segue o Fluxo…”
A questão que importa
Em texto anterior, publicado em 2012, outro jornalista da Folha, André Barcinski, que parece ter inspirado Pereira Júnior, falava sobre a necessidade de se discutir a problemática em torno da sustentabilidade do mercado cultural. No artigo “O SESC e a concorrência desleal”, ele denuncia a falta de apoio para empreendedores da iniciativa privada, nas áreas que possuem uma rede do Sesc promovendo eventos de qualidade a baixo custo.
E aqui Barcinski lança uma luz – mais sóbria – para o debate, sobre a suposta concorrência desleal dos Sesc: “Hoje, quem abre uma pequena casa de shows, por exemplo, não tem nenhum incentivo fiscal. Paga impostos escorchantes e ainda ajuda a financiar o Sesc”. E propõe uma possível solução: “o governo é que deveria pensar em maneiras de apoiar quem trabalha com cultura e esporte, para que iniciativas privadas possam funcionar em condições justas”.
E, por fim, em seu artigo, André reiterava: “o Sesc é uma iniciativa fantástica”.