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    09/05/2015 Livia Rangel

    Entrevista: Lucas Santtana fala de amor livre, política, tecnologia e o novo disco

     

    De passagem por Londres com a turnê de lançamento do álbum Sobre Noites e Dias, o cantor e compositor brasileiro Lucas Santtana bateu um papo com a Eleven. Artista sensível e um dos melhores letristas da sua geração, ele conversou com a jornalista Lívia Rangel.

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    Na entrevista, que você confere abaixo, Santtana fala sobre a influência da tecnologia na sua produção artística e como o mundo digital vem interferindo na vida das pessoas; relembra as canções mais pedidas em seus shows e conta detalhes do disco Sobre Noites e Dias e suas músicas; toca na ferida da política brasileira e a omissão dos artistas brasileiros; revela-se cidadão do mundo e garante que a imagem cultural do Brasil, como “o país do samba e Carnaval”, está começando a mudar no exterior.

    Já de volta ao Brasil, no dia 07 de maio, Lucas gravou, no Sesc Pompeia, o DVD de comemoração dos seus 15 anos de música e estrada.  

    Sem mais delongas, confira a entrevista completa com LUCAS SANTTANA:

    Lívia Rangel – Sobre Noites e Dias é um álbum multicultural que vai do erudito ao popular, do samba violado ao tecnobrega, do pop/rock à percussão afro-brasileira. Foi intencional produzir um disco musicalmente tão diverso ou isso veio naturalmente com a vida mutante na estrada?

    Lucas Santtana – Todos os meus discos são um pouco assim. foi a maneira que eu entendi a música quando tinha 12 anos. ouvindo todo tipo de música e encontrando pontos de interseção entre esses universos musicais. Então, para mim isso é muito natural, não penso que estou fazendo, simplesmente faço.

    “Aos poucos, essa imagem (no exterior) do Brasil de Carnaval,
    mulata e caipirinha vai cedendo espaço para a cultura
    que está sendo produzida no Brasil hoje em dia”


    Lívia – Com tantas participações especiais e arranjos orquestrados em Sobre Noites e Dias, como tem sido para a banda interpretar o disco ao vivo?

    Lucas – Nós usamos máquinas de sampler, como MPC e Monome. Mas tocamos tudo ao vivo, não gostamos de live P.A, não soltamos uma base programada e tocamos por cima dela. Tocamos as máquinas como instrumentos tradicionais (guitarra, baixo). Dessa maneira chegamos num som eletrônico e orgânico ao mesmo tempo.

    Lívia – Quem está te acompanhando nesta turnê na Europa?
    Lucas – Minha banda desde 2012. Bruno Buarque e Caetano Malta.

    “Não sou uma pessoa regional ou nacional,
    eu sempre quis ser do mundo. me sinto bem
    em qualquer lugar. Gosto de interagir
    com qualquer cultura”

    Lívia – Você é um pesquisador atento à cultura que vem dos bailes charme e funk cariocas. É de lá que vem a inspiração para a libertária “Funk dos Bromânticos”?

    Lucas – Também. Mas a inspiração para essa música veio na estrada, depois de encontrar vários jovens de 20 e poucos anos que se relacionam com pessoas de ambos sexos e não se consideram homossexual por causa disso. É em homenagem a essa geração
    “bromantic” essa música.

    Lívia – Por falar em amor livre, o Brasil vem passando por uma perigosa onda conservadora, tendo aliados políticos e religiosos que trabalham para regredir conquistas da sociedade brasileira. Como você tem visto essa nova onda? Os artistas populares não parecem se posicionar em quase nada no país…

    Lucas – Sim, poucos artistas no Brasil tem se posicionado, uma pena. O Brasil está de fato vivendo um dos seus piores momentos políticos. Com um congresso eleito por voto proporcional, que não representa a sociedade, apenas interesses de grandes empresas e grupos de comunicação. Mas a mobilização popular tem crescido e vamos pressioná-los de todas as formas possíveis. É preciso que a imprensa internacional não se cale também em relação a isso.

    “O Brasil está de fato vivendo um dos seus piores 
    momentos políticos. Com um congresso eleito por voto
    proporcional, que não representa a sociedade”

     

    Lívia – Como filho da Bahia e adotado do Rio de Janeiro, de que maneira as duas cidades entram em sua música?

    Lucas – Sim, mas todas as cidades entram, não sou uma pessoa regional ou nacional, eu sempre quis ser do mundo. me sinto bem em qualquer lugar. Gosto de interagir com qualquer cultura.

    Lívia – O flerte com a música eletrônica é definitivamente uma marca sua. Em Sobre Noites e Dias você traz uma dose extra dessa digitália, sendo o disco quase todo costurado por instrumentação digital. Sobre Noites… é o seu trabalho mais eletrônico?

    Lucas – Sim. Eu adoro máquinas que produzem música, seja uma guitarra, um sintetizador ou uma MPC. Muitas máquinas tem um som quente, pessoal, próprio dela, e gosto de explorar essas sonoridades do passado e do futuro.

    Assista ao clipe da música “O Deus que Devasta mas Também Cura”:

    Lívia – “Human Time” (Sobre Noites e Dias) e “O Deus que Devasta mas Também Cura” (O Deus que Devasta mas Também Cura), em minha opinião, são dois clássicos da música moderna brasileira. Fala um pouco sobre essas duas canções e seus arranjos…

    Lucas – São canções que misturam música clássica com música pop, tem uma sofisticação e ao mesmo tempo tem uma melodia bem pop. “Human Time” tem uma influência de música jamaicana e também de música minimalista e fala sobre a perda do tempo humano. Hoje é só olhar ao redor em qualquer lugar, todos estão aprisionados nas telas de seus smartphones. Ninguém aguenta ficar 3 minutos olhando uma árvore ou esperando para pegar uma avião. Todo o tempo livre parece uma perda de tempo que temos que ocupar mexendo nessas máquinas portáteis.

    Ouça “Human Time”:

    Lívia – Aos poucos a música brasileira começa a ser revista no exterior. Artistas da chamada “nova geração” vêm rompendo paradigmas com bons discos e turnês, mostrando que o Brasil não é “só” Bossa, Samba e Carnaval. Acha que a imprensa internacional está realmente interessada nos sons modernos do Brasil?

    Lucas – Sim, cada vez mais. Nesse disco ganhamos páginas inteiras em importantes jornais e revistas, acho que isso não acontecia faz tempo. Aos poucos essa imagem do Brasil de carnaval, mulata e caipirinha vai cedendo espaço para a cultura que está sendo produzida no Brasil hoje em dia, e que é tão internacional quanto o que se está produzindo no resto do mundo. 

     

    Hoje é só olhar ao redor em qualquer lugar, todos
    estão aprisionados nas telas de seus Smartphones

     

    Lívia – A faixa “Partículas de Amor”, dona de um dos melhores clipes brasileiros do ano passado, faz sucesso entre o público feminino. Quais são as mais pedidas nos seus shows no Brasil?

    Lucas – “Partículas de amor”, “Cira regina e nana“, “Amor em Jacumã“, “Lycra limão”, “Ela é Belém“, “Tijolo a tijolo“, são mutas. 🙂


    Lívia – Na última terça-feira você esteve em Londres onde se apresentou no imponente SouthBank Centre, para lançar Sobre Noites e Dias. Como foi a experiência?

    Lucas – Levamos os ventos, as árvores, os rios de Londres para cima do palco. E fizemos a nossa mágica. O show foi demais. 

     

    Livia Rangel

    Filha da Bahia, radicada em Berlim. Jornalista, empreendedora, editora-fundadora da ElevenCulture.com e diretora da Agência Lira. Bacharel em Jornalismo, mestre em Comunicação Corporativa (Unifacs) e especialista em Marketing Digital (Udacity). livia@agencialira.com

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