Uma das maiores artistas da nova música brasileira, dona de uma afinação e performance cênica de dar inveja a muita diva da MPB, a cantora e compositora paulista Tulipa Ruiz esteve na capital britânica na semana passada. Depois da apresentação ocorrida na noite de quinta-feira (08), no badalado Rich Mix, ela nos recebeu no camarim, onde gravamos o papo que você confere logo abaixo.
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Na entrevista, a artista não poupou palavras para falar sobre o momento sociopolítico do Brasil e destacou ainda a importância do engajamento dos artistas brasileiros no Brasil e no exterior, o interesse dos jornalistas internacionais sobre o contexto atual do país e a carreira internacional.
Euro Tour 2016
Durante a rápida passagem por Londres, Tulipa e sua trupe fizeram duas apresentações: dia 08/09, no RichMix, e dia 10/09, no Brazil Day, na Trafalgar Square. O novo show, que marca o lançamento do álbum Dancê, revisita os 3 álbuns de estúdio (Efêmera, Tudo Tanto e Dancê), desfilando hits como “Brocal Dourado”, “É” e ‘Só Sei Dançar Com Você’. Além, claro, dos novos sucessos – cantados em coro pelos fãs nos dois shows na cidade – como as ótimas faixas “Prumo” e “Proporcional”.
A Euro Tour de Tulipa Ruiz passou ainda por festivais em Paris e, depois de Londres, segue para Coruna, Madrid e Copenhagen – onde se encerra, no dia 17 de setembro. Na volta ao Brasil, Tulipa e banda lançam o disco Dancê em formato vinil (LP).
Confira a entrevista com Tulipa Ruiz:
Lívia Rangel – Como tem sido a turnê do disco Dancê na Europa?
Tulipa Ruiz – Vir pra Europa é sempre muito especial, a gente é sempre recebido com muito carinho, sobretudo em Londres. Tocamos em Paris no Festival d’Ile de France, numa Mostra do Brasil que teve Criolo, Bixiga70, Metá Metá, Casuarina. Foi muito especial fazer parte de um recorte da produção atual do Brasil, que é muito grande e nutritiva. Foi muito especial representar meu país fora dele. Aqui em Londres, eu já estava com saudade. Eu vinha todo ano aqui, desde que lancei o meu primeiro disco. Já tocamos no Rich Mix antes. Tem algumas pessoas que eu já reconheço no público. Então, tocar em Londres, eu faço sempre com muito carinho.
“Vir pra Europa é sempre muito especial,
a gente é sempre recebido com muito carinho, sobretudo em Londres.
Tem algumas pessoas que eu já reconheço no público”. Tulipa Ruiz
Lívia – Por falar no Festival d’Ile de France, circularam pela internet, em todo mundo, imagens dos artistas da Mostra Brasil reunidos no palco, segurando uma faixa enorme denunciando o Golpe de Estado que acontece no Brasil. Fala um pouco sobre isso…
Tulipa – O olhar de quem está aqui (fora do Brasil) consegue ser um pouco mais imparcial, mais justo. O que está acontecendo no Brasil é que a gente está sendo manipulado, sobretudo pela mídia. O que acontece no Brasil é que uma presidente eleita por (54) milhões de brasileiros foi deposta sem ter cometido crime nenhum. E embora a maioria a maioria dos brasileiros tenham ressalvas sobre o seu governo, ela foi a presidenta eleita. Então, a imprensa, sobretudo a grande mídia brasileira e todas as pessoas do governo que são a favor desse golpe, confundem as pessoas. Por que o que você vê na televisão é muito a favor do que aconteceu, que foi esse golpe. E ninguém explica direito (ao povo) que não existiu um crime, a corrupção não foi comprovada, então ela não teria que ter sido tirada do poder.
“O olhar de quem está fora do Brasil consegue
ser um pouco mais imparcial, mais justo.
O que está acontecendo no Brasil é que a gente
está sendo manipulado, sobretudo pela mídia”.
Lívia – E como você avalia a cobertura da imprensa internacional, por onde você tem passado?
Tulipa – Fora do Brasil as pessoas enxergam isso (o Golpe de Estado) tão claramente… A mídia internacional tem coberto esse assunto com tanta imparcialidade. É tão importante quando a gente sai do Brasil e conversa com pessoas que têm entendido que a gente tem sido muito manipulado no nosso próprio país.
Lívia – Você concorda que os artistas da MPB, especialmente a sua geração, têm se engajado e se mobilizado mais?
Tulipa – Sim, não tem como não se engajar, como cidadão, como ser humano. Qualquer pessoa que esteja no Brasil ela é impactada pelas coisas que estão acontecendo ali, impactada na sua educação, no seu salário, no seu emprego.
Quando a gente sai do Brasil, demora um pouco pra o jornalista, que entrevista a gente, chegar no nosso trabalho especificamente. Ele vai perguntar primeiro sobre o contexto político do seu país, depois sobre o contexto musical do seu país, ele vai falar sobre os grandes standards do seu país, sobre Tom Jobim, sobre o samba, pra depois chegar na nossa música especificamente… Então, a coisa de (o artista brasileiro) ser um embaixador esta aí, a gente tem que falar da nossa Cultura.
Quando o artista sai do Brasil, ele tem uma responsabilidade gigantesca. Ele tem que tocar no assunto (o Golpe). E se ele não quiser falar, ele vai se ferrar porque é o que as pessoas vão querer saber. E eu acho isso da maior importância.
* Lívia Rangel é jornalista e pesquisadora musical, apresentadora do programa Novos Sons do Brasil (Rádio RBG) e editora da revista on-line ElevenCulture.com. Escute o Novos Sons do Brasil, todas as sextas, às 16h30 (fuso do Brasil), 8h30pm (fuso da Inglaterra), na RBG (radiorbg.com).