Mayra Andrade no Ronnie Scott´s, em Londres. (Foto: Olivier Hoffschir)
A ElevenCulture, em nova parceira com a JungleDrums (leia a versão em inglês, aqui), apresenta mais uma entrevista exclusiva para você. Desta vez, batemos um papo com uma das maiores estrelas da música cabo-verdiana, a cantora Mayra Andrade que está lançando novo álbum. No dia 10 de março, conferimos a primeira apresentação da turnê britânica da cantora, no lendário clube de jazz Ronnie Scott´s, no Soho, em Londres (foto acima).
Mayra apresentou o show da turnê mundial de lançamento do álbum Lovely Difficult, no qual arrisca sair um pouco da world music e experimenta uma linguagem mais pop, cantando algumas faixas em inglês, mas sem perder o link com as suas raízes culturais. Durante o show ela se declarou aos fãs brasileiros: “Eu amo o Brasil, vocês sabem disso, né?
Na entrevista que você confere logo abaixo, a musa de Cabo Verde, nascida em Cuba e radicada em Paris, abre o jogo sobre as mudanças artísticas em sua carreira, seus quatro discos, a relação com o Brasil, e muito mais. Confira!
ENTREVISTA COM MAYRA ANDRADE:
Lívia Rangel – Representar Cabo Verde fez de você uma artista universal. Você já lançou dois álbuns de World Music, um álbum de jazz e Lovely Difficult, que é mais pop e moderno. Conte-nos um pouco sobre esses diferentes momentos da sua carreira.
Mayra Andrade – Cada um dos meus álbuns são o reflexo de um momento específico da minha vida, de quando eu estava gravando o respectivo álbum. Em primeiro lugar, foi muito importante que eu tenha me estabelecido na cena musical como uma cabo-verdiana. Eu vejo minha nacionalidade e cultura como minha singularidade e força. No entanto, como a minha carreira tem progredido, eu sempre adiciono minhas próprias influências para a minha música, baseado nas experiências adquiridas nas viagens que fiz ao longo da vida.
Os dois primeiros álbuns de estúdio são mais tradicionais, o terceiro é uma gravação ao vivo, feito com uma linguagem mais jazzy, na Maison de la Radio em Paris. Com este novo trabalho, eu queria ir além da minha formação musical tradicional, eu queria dar um passo em direção a arranjos mais contemporâneos e algo mais pop com base em coisas que eu gostaria de explorar. Para mim, era hora de dar vida a todos os encontros artísticos que eu experienciei durante esses últimos 11 anos em Paris.
Assista ao clipe da faixa “We used to call it love”, single do CD Lovely Difficult:
“Eu vejo minha nacionalidade e cultura como minha singularidade e força”
L.R. – Cantar em inglês permite que você atinja o mercado mundial da música pop, mas você também gravou em português e em francês . Como você escolhe as músicas em seus álbuns?
M.A. – Nesta gravação, eu queria deixar as questões da língua de lado e concentrar mais na linguagem da música em si. Eu queria escrever uma música, independente de saber se é em crioulo cabo-verdiano ou em Português. Todos os artistas que participaram do disco tem diferentes backgrounds e estilos. Eu sinto que isto é evidente por todo o disco e há um elo entre a minha voz, as composições, os arranjos e todo o som do álbum. Um desafio que Mike Pelanconi (Prince Fatty ) e eu tivemos que dominar juntos!
L.R. – Como foi a escolha de repertório das músicas de seus quatro álbuns para a turnê de “Lovely Difficult”? Qual música os fãs pedem mais?
M.A. – Durante a turnê, tocamos principalmente as músicas do álbum mais recente, e algumas do “NAVEGA”, meu primeiro álbum. Algumas delas (Lua, Tunuka, Comme s’il en pleuvait, Dimokransa) tem sido importantes na minha carreira, então eu sempre gosto de cantá-las, mesmo que os arranjos tenham mudado completamente.
Relembre a participação de Mayra Andrade no Jools Holland, cantando “Mana”:
Victor Fraga – Você tem sido muitas vezes comparada a Cesária Évora, que faleceu há dois anos. Como você se sente sobre isso?
M.A. – Cesaria e eu certamente temos em comum o fato de que somos duas mulheres completamente apaixonadas por Cabo Verde e que ambas temos uma voz que nos permite viajar pelo mundo, deixando que as pessoas descubram a nossa música. É absolutamente maravilhoso! Fora isso, tivemos caminhos muito diferentes na vida, que eu sinto que está refletido em nossa música. Nós nunca conversamos muito sobre música, eu tinha um enorme carinho por ela. A primeira vez em que a conheci eu tinha 12 anos, eu trouxe-lhe flores no palco e uma vez em que estávamos nos bastidores, eu me apresentei a ela como cantora. Ela me deu um conselho importante, dizendo-me para nunca esquecer que o público é quem decide se você deve continuar ou não. Cesaria me ofereceu um dos buquês. Foi a primeira vez que alguém me ofereceu flores.
“Eu tenho um público extremamente entusiástico e receptivo no Brasil”
V.F. – O gênero “Morna” de Cabo Verde soa surpreendentemente brasileiro, enquanto que o crioulo cabo-verdiano é dificilmente inteligível para os brasileiros. Como você se sente em relação aos brasileiros, como algo próximo ou como muito estrangeiro?
M.A. – Eu tenho um público extremamente entusiástico e receptivo no Brasil! As origens que nós temos em comum (África e Portugal ) ajuda os brasileiros a reconhecerem-se dentro da minha música e, ao mesmo intriga-os o fato de não entenderem o nosso crioulo e de que existem diferenças rítmicas e intenções. Os brasileiros e os cabo-verdianos têm muitas coisas em comum, mas também muitas diferenças que nos fazem distintos. No caso da música Cabo-verdiana e da música brasileira é muito interessante observar as diferenças que as tornam uma riqueza.
Veja vídeo de Mayra Andrade com Martinália e Carlinhos Brown cantando “Tchapu na Bandera”:
V.F. – E a sua proximidade com Portugal? O Fado desempenha um papel em sua música?
M.A. – Fado não tem influenciado particularmente a minha música, mas enquanto eu crescia e meus avós (que eram Portugueses) envelheciam, eu aprendi a amar essa música.
Traduzido para português por CH Straatmann