*Texto por Geovana Ribeiro
Foi um longo período de ruptura imposta, na época, pela ditadura militar do Brasil. De espera também foi o período da comunidade artística baiana, no aguardo, por quase cinquenta anos, pela volta da sua Bienal e de um circuito de artes visuais robusto, que pudesse dialogar com todas as vertentes.
Mas a boa nova veio em 2014. Finalmente, a Bienal da Bahia voltou a acontecer. A abertura da sua terceira edição ocorreu nesta quinta-feira(29), na capital e no interior, dando início a uma programação dividida em duas etapas: a primeira desde a abertura até 17 de julho contando com a participação de 50 espaços. A segunda etapa vai de 17 de julho até 07 de setembro, entrando em cena com a inauguração de mais uma leva de exposições e ações integradas em mais de 80 espaços de apresentações.
A Bienal da Bahia volta com a presença de 150 artistas, dentre eles 100 baianos, 25 de outros países, e os demais de outros estados. Com a indagação “É tudo Nordeste?” busca aproximar a produção cultural e artística da região.
A 1ª Bienal da Bahia aconteceu em 1966, no Convento do Carmo, e a 2ª Bienal da Bahia, que foi fechada pela ditadura, foi no Convento da Lapa, em 1968 – suas obras foram censuradas “por serem consideradas subversivas ao regime militar”. Obras de arte foram confiscadas, quando não destruídas.
Segundo Albino Rubim (sec. Estadual da Cultura da Bahia) essa Bienal volta no ano que se relembra os 50 anos de golpe militar. A mesma estava prevista para ser realizada no ano de 2011, “todavia não foi possível naquele momento por não haver a relação necessária com as Bienais anteriores”.
Apesar de controvérsias – como a reclamação do veterano pintor Jamison Pedra que integrava a turma da década de 60 e importante criador no campo da abstração geométrica – que reivindicou sua presença nessa Bienal, acredito que a Sociedade baiana deva celebrar o retorno desse evento de suma importância para a cultura moderna no estado. Em tempo: Jamison inaugurou exposição comemorativa de seus 50 anos de arte, também no dia 29 de maio, na MCR Galeria de Arte (Ondina Apart Hotel),
Abertura da exposição No Litoral é Assim, Casarão do MAM-BA (Museu de Arte Moderna da Bahia)
Essa Bienal visa mais que apenas um espaço, onde se possa perpassar por todas as modalidades artísticas, mas sim, um diálogo entra as artes regionais, em intercâmbio com a arte contemporânea internacional.
Alguns destaques da Bienal são Juarez Paraíso, curador em 1968, Jurací Dórea e Rogério Duarte, com a exposição ” A Reencenação” – que busca o espirito e as intenções das primeiras duas Bienais da Bahia em uma leitura contemporânea.
Marcelo Rezende, curador chefe da Bienal descreve evento como “além de um salão de artes visuais”, pois o mesmo conta com uma nova formação e característica descentralizada englobando, no circuito, cidades do interior como: Lençóis, Feira de Santana, Canudos, Vitoria da Conquista, entre outras, consolidando a tese de que a arte esta em diversos locais.
Trata-se de um processo contínuo que propõe gerar espaços possíveis para criação artística, pesquisa e descoberta de acervos gerando um momento propício de discussões acerca da Arte Contemporânea.