• redacao@elevenculture.com
    • Novidades da música brasileira no mundo
    23/06/2014 Livia Rangel

    O voo de Karina Buhr: cantora fala sobre turnê no exterior, política e carreira


    Karina Buhr pelas lentes de Diego Ciarlariello

    Artista multifacetada Karina Buhr, baiana-pernambucana radicada em São Paulo, há muito vem mostrando que não é mais uma promessa, deixando sua marca forte na nova música Made in Brazil, por meio de letras diretas e confessionais, performances enérgicas no palco e uma super banda de pop rock brasileiro.

    Na estrada com a turnê do segundo álbum, Longe de Onde (2011), Karina está de malas prontas para um novo desafio: a primeira turnê internacional. A cantora e sua banda embarcam essa semana para a Europa, onde cumprem uma agenda corrida de seis apresentações, em quatro países – passando por Portugal (Lisboa, dia 27/06, e Porto, 29/07), Espanha (Barcelona, 30/06, e Madrid, 03/07), França (Paris, 04/07) e Alemanha (Berlim, 06/07).

    Leia também:

    Além de mexer com teatro, artes plásticas, cantar, compor e tocar percussão, Buhr é daquelas mulheres que não se omitem quando o assunto é política. Em tempos de protestos no Brasil, nessa entrevista, a artista abre o coração e fala sobre o movimento #OcupeEstelita, que vem acontecendo em sua cidade do coração, Recife.

    No bate-papo de “mulher pra mulher”, ela também fala sobre sua paixão pela tradição do São João nordestino (que é celebrado esse mês), o amor pelas viagens e revela o desejo de morar fora do país por um tempo.

    Sem mais delongas, leia abaixo a entrevista completa com Karina Buhr:

    Lívia Rangel – Essa será sua primeira excursão internacional, passando por quatro países europeus. Como estão os preparativos para a tour? Vai apresentar algo especial para o público no estrangeiro? 
    Karina Buhr – Os preparativos estão sendo organizar a viagem e avisar para os amigos e desconhecidos que são dos lugares. O especial vai ser o show mesmo, que nunca fiz na Europa e quero muito fazer. Fiz o show do primeiro disco, o Eu Menti pra você, na (feira) Womex, em Copenhague 2010, e no festival Roskilde, em 2011. Mas esse show do disco Longe de Onde a estreia na Europa é agora. 

    Lívia – Algum desses países gera uma expectativa em especial ou não? 
    Karina – Todos, por que a parte que mais gosto dessa vida de música é fazer shows e viajar. Gosto muito mesmo. Portugal tem a língua, que pra mim é importante demais. As letras são uma parte importante pra mim, que elas cheguem nas pessoas. E tudo entre os dois países. Morei em Lisboa por um ano, quando tinha um ano de idade.

    O Porto, pra mim, é um lugar de sonho, muito especial. Fiz a música “Rosa Alvarinha” quando fui lá, em 2010, a partir de um trecho de uma reza de rezadeiras portuguesas. Barcelona e Madri também fazem parte de minha vida, tanto na música, como na dança. Paris é Paris (risos). Berlim é um lugar onde quero muito morar e isso é um plano antigo.

    Tenho uma ligação muito forte com a Alemanha, toda família do meu avô, pai da minha mãe, é de lá e são muitas histórias, muita vida dentro. Não de Berlim exatamente, mas Berlim é uma cidade que me faz me sentir em casa, embora tenha passado poucas vezes por lá. Fui três vezes, uma delas com o Teatro Oficina, para apresentar Os Sertões, no Volksbühne. Que venham mais países! Arrumarei motivo pra todos eles (risos). 

    Lívia – Porque a decisão de investir no mercado europeu agora? 
    Karina – Não se trata de pensar num investimento de mercado, não consigo pensar nisso fazendo música. E também não depende tanto de uma decisão, mas de convites, produção, situações que levem a isso. Quero tocar nos lugares, para as pessoas. E o quanto mais minha música andar por aí acho maravilhoso. Os frutos disso vou colhendo durante os trabalhos. Mas não é uma estratégia de conquistar um mercado. 

    Essa turnê, especificamente, veio a partir de um convite do Ministério das Relações Exteriores, para tocar em Barcelona, que vai ser no incrível Palau de la Música e, em Madri, no Festival Fringe. A partir desses dois shows vieram os outros e isso era uma grande vontade minha.

    Lívia – Como será sua participação no Fringe? Algum show que queira assistir por lá?
    Karina – Nosso show vai ser na abertura do festival. Fico feliz demais, tocar em festival é tão especial quanto fora deles, mas eles têm uma coisa especial… além do clima dessas reuniões de muita gente para ver e ouvir música, tem o fato de muita gente que nem conhece seu som, que está ali, às vezes, porque foi ver a banda de antes, ou chegou cedo pra esperar a de depois, ou ficou curioso com algo e se gosta fica pra ver também. Gosto desse movimento todo que acontece num festival. E é um festival em Madri, lugar incrível e também onde nunca toquei.

    Lívia – Quem são os músicos que vão te acompanhar nestes shows?
    Karina – Na guitarra Fernando Catatau, no baixo Mau, na bateria Clayton Martin, e no teclado André Lima.

    Lívia – O Brasil está à flor da pele esse ano. E no momento em que você sai em turnê, o país comemora seus festejos juninos, o movimento #OcupeEstelita tenta resistir em Recife e chegam as oitavas de finais da Copa do Mundo. De que maneira momentos como estes mexem com você?
    Karina – Estou vivendo tudo isso com muita intensidade e continuarei mesmo de longe. Época de São João é coisa linda e especial pra mim desde sempre. Esse é um dos lados difíceis de morar em São Paulo e não viver isso do jeito que sempre vivi em Recife e interior de Pernambuco.

    O Ocupe Estelita ocupa minha vida desde 2012, quando ele começou a acontecer no Cais José Estelita. Essa movimentação como luta é desde 2008, época do leilão irregular que aprovou a compra do terreno pelas empreiteiras do também irregular projeto Novo Recife, que é um projeto com cinco processos correndo na justiça contra ele, embargado pelo IPHAN. Um projeto basicamente elitista, que não vê a cidade com cuidado, nem respeito, é um crime contra as pessoas da cidade e a sua história.

    Esses dias ocorreu uma reintegração de posse também ilegal e, além disso, muito violenta, que tirou o acampamento de dentro do terreno, mas as pessoas continuam embaixo do viaduto do lado. A reintegração ilegal aconteceu ao mesmo tempo que funcionários das empreiteiras entravam com banheiros químicos e material de trabalho. Agora já tem máquinas lá e eles estão em obras, apesar de não terem esse direito por lei. A obra está embargada.

    Resposta longa acabei dando, mas é que é muito difícil pra mim falar disso, sem querer explicar direito. Mas isso foi um resumo. Bom, pelo menos acho que respondi à pergunta de “de que maneira esses movimentos mexem com você?” (risos).

    A Copa, eu acho um evento bem bonito se for pensar no esporte, nos países jogando, em vez de guerrear. Mas é uma agressão social, são muitas famílias removidas de suas casas, de maneira violenta, quase sempre, e sem garantia nenhuma depois que isso acontece. A FIFA é um grande problema, precisa haver uma grande mudança nisso tudo. A FIFA tem que “go home” mesmo. A festa do futebol vai ser sempre linda, mas isso é outro assunto…

    Assista ao trecho do show Longe de Onde, com “Cara Palavra”:

     

    Lívia – Acha que o candidato Eduardo Campos (líder do PSB) vai conseguir uma boa briga pela presidência da República, mesmo depois desse desgaste político – associado ao partido dele com as atuais gestões da Prefeitura e Governo do Estado, em Pernambuco?

    Karina – Eduardo Campos tem ainda, principalmente fora de Pernambuco, a blindagem na imagem por ser neto de Miguel Arraes. Ele tem como grandes aliados a mídia do Estado de Pernambuco, íntimos nas suas relações de poder, dentro do seu partido, nas atuações no poder público e empreiteiras.

    Ele precisa ser responsabilizado por muita coisa, mas isso depende do duro trabalho de cada cidadão que percebe essa movimentação do Ocupe Estelita e que grita junto. O procurador geral do Estado é primo dele e também advogado das empreiteiras do Projeto Novo Recife. É uma briga de gigantes do poder em que os cidadãos resolveram se meter e mostrar que é deles também a briga e ao mesmo tempo, que a cidade não pertence a essas empreiteiras e ao governador e prefeito. A cidade não é o quintal da casa deles, eles precisam consultar a população, ouvi-la sempre, eles estão ali pra representá-la e não pra mandar nela.

    “Os políticos precisam consultar a população, ouvi-la sempre, eles estão ali pra representá-la e não pra mandar nela”

    O boicote da imprensa pernambucana é grande e de parte da imprensa nacional que defende os mesmos interesses também, mas já há uma reação e a notícia está se espalhando bastante e novos aliados fortes chegando.

    Já ganhamos muito nesse processo todo de aprendizado coletivo diário. E ainda acho que vamos conseguir. Ou não há mesmo lei em Pernambuco.

    Veja o clipe de “Amor Brando”:

    Lívia – O que representa o projeto Novo Recife?
    Karina – É um projeto que ameaça a cidade e os cidadãos, desde seu nascimento, se reafirma isso agora com a reintegração de posse ilegal e concatenada com a ação também ilegal e violenta da polícia (cercaram e trancaram os manifestantes dentro do terreno, espancaram pessoas com cacetetes, chicotes, atingiram muitos com tiros de balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo).

    Quando o grupo se dirigiu ao terreno da União, em cima da linha férrea, a cavalaria (da Polícia Militar) foi lá e também os expulsou e os agrediu, sendo que ali é território onde eles não têm poder de ação e se vier a acontecer será um desastre para o entorno do lugar, para as pessoas que moram ali, o Centro Histórico, a parte funcional. Não foi feito estudo de impacto de vizinhança, nem de impacto ambiental, é embargado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e não tem autorização do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte).

    Ele também será uma agressão à paisagem do Centro Histórico e deixará a cidade mais quente do que já é, visto que visa construir, na beira do rio 15 torres, de cerca de 40 andares cada (divulgam 12, mas no projeto tem uma torre dupla e uma tripla, sendo que a beira do mar já é totalmente tapada por prédios, tendo diminuído drasticamente ao longo dos anos a ventilação da cidade e deixando a praia com sombras enormes de prédios às 3 da tarde).

    Ouça abaixo a íntegra do primeiro disco de Karina, Eu Menti Pra Você:

    Lívia – Mudando um pouco de assunto… O disco ‘Longe de Onde’ (2011) te consagrou como uma das melhores artistas do atual pop rock brasileiro. Já pensa em compor para o próximo disco? 

    Karina – Tenho ideias sim e músicas prontas pra um terceiro disco. Isso é uma coisa que acho que acontece naturalmente com todo mundo que faz música. Acaba de gravar um disco e já começa a encher gavetinhas e HDs com pedaços de ideias novas. 

    Mas ainda não sei quando quero lançar, vou indo na corrente. Por enquanto, estou gostando de viajar muito pelo Brasil e agora também fora dele com esse último disco. Também quero gravar o show em DVD. Depois que eu gravar o DVD vou sentir mais urgência de um disco novo.

    Lívia – Quais os planos para depois desta turnê na Europa?
    Karina – Gravar o DVD.

    Livia Rangel

    Filha da Bahia, radicada em Berlim. Jornalista, empreendedora, editora-fundadora da ElevenCulture.com e diretora da Agência Lira. Bacharel em Jornalismo, mestre em Comunicação Corporativa (Unifacs) e especialista em Marketing Digital (Udacity). livia@agencialira.com

    VAI SAIR EM TURNÊ INTERNACIONAL?

    Estamos sempre de olho na agenda de shows e lançamentos dos artistas brasileiros no exterior. Mande sua sugestão de pauta pelos nossos canais. Acompanhe a Eleven!