Dona de um timbre grave poderoso que revela toda sua ancestralidade africana, a cantora e compositora Nilza Costa, baiana, radicada há 8 anos na Itália, lançou em 2014, aos 40 anos, seu primeiro álbum, Revolution, Revoluzione, Revolução, estreando em carreira solo.
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Segundo ela mesma conta na entrevista exclusiva que você confere logo abaixo, o que era para ser apenas a gravação de um single, a convite do estúdio italiano Studio Soundlub, virou um álbum autoral inédito de afro jazz/MPB. De lá pra cá, a artista, que canta em português, italiano, inglês, francês e yorubá, vem realizando o sonho de toda uma vida: perder a timidez e apresentar suas canções para o universo.
E vem novidade por aí. Costa revelou à Eleven que já se prepara para entrar em estúdio novamente, para gravar o segundo álbum, intitulado Raíz, ainda em 2015.
Acompanhada de um time de músicos experientes, conhecidos na cena jazzista de Bologna, Nilza vem excursionando pela Europa, onde vem sendo elogiada pela crítica especializada e ganhando fãs. No Brasil, no entanto, a ex-integrante do coral do Olodum e da Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA), ainda é uma desconhecida.
Vamos conhecer um pouco mais sobre a história de vida dessa artista plural, que vem dando o que falar em terra estrangeira e promete ser uma das grandes revelações brasileiras no exterior esse ano.
ENTREVISTA – NILZA COSTA:
Lívia Rangel – Conta um pouco da sua história. Onde você nasceu e cresceu, como foi a sua infância e onde a música entra na sua vida?
Nilza Costa – Eu nasci em Salvador, no bairro do Garcia, em 1974. A minha infância foi de muitas dificuldades, mas fui muito feliz, me diverti bastante, principalmente, com a música. Estava sempre cantando por todos os cantos, escrevia tudo aquilo que pensava e lia muito jornais, revistas, principalmente, ‘Sabrina’, ‘Bianca Julia’, romances que achava nos lixos… Jorge Amado, enfim, tudo que tinha letra de imprensa. Eu acendia a vela e lia, porque em casa não tinha energia elétrica.
A música sempre fez parte da minha vida, eu escutava a minha avó e a minha mãe, que cantavam sempre, e quando a minha avó me levava no candomblé ou nas igrejas catòlicas, eu estava sempre curiosa nos cantos.
Lívia – Ao longo da sua trajetória na música você já colaborou em grandes projetos como a Orquestra Sinfônica da Bahia e o grupo Olodum. Fala um pouco sobre o seu envolvimento nessas entidades culturais.
Nilza – Minha carreira como cantora solista eu comecei na Itália mesmo. Eu era muito tímida e não conseguia cantar como solista. Fiz parte de vários corais em Salvador, principalmente, na Igreja de São Lázaro. Depois fui estudar canto na Didá com o professor Jocemar e ele me levou para o Coro Cênico Olodum, onde fiquei por três anos. Fiz parte do Coro da Fundação Cultural do Estado da Bahia que era no Teatro Miguel Santana (no Pelourinho), com o professor/maestro Jorge Marques. Participei de uma audição da OSBA (Orquestra Sinfônica da Bahia), passei, frequentei um pouco mas não dei continuidade, porque junto com uma amiga cantora fundamos uma banda de reggae chamada Ujhama e fiquei até 2003. Depois dei um tempo em Trancoso, onde conheci o meu marido que me trouxe para Itália e me deu um ultimato: “Você deve cantar criatura!!”. Então, em 2006, continuei o meu sonho de sempre.
De todos esses projetos que participei o Coro Olodum foi aquele que tirou a minha timidez, me deu uma grande força e abriu a minha mente, foi ali que perdi o medo de mostrar o que escrevia e de mostrar a minha voz.
Lívia – Foi difícil a decisão de sair do Brasil e ir morar na Itália?
Nilza – Eu nunca tive a intenção de deixar o Brasil para morar no exterior, queria conhecer outros países sim, mas não para morar. Quando casei com um italiano que morava e trabalhava em Trancoso, no sul da Bahia, viemos para Itália.
Lívia – Tem vontade de um dia voltar a morar no Brasil? Como tem visto o momento político no país?
Nilza – Claro que tenho vontade de voltar, mas não nesse momento, justamente, porque tenho os meus projetos. Foi aqui que realizei o meu sonho como cantora e compositora. Musicalmente, tenho muito que agradecer a Itália por todas as oportunidades que encontrei aqui.
“Musicalmente, tenho muito que agradecer a Itália por todas as oportunidades que encontrei aqui”“
Quanto ao momento politico do Brasil, eu penso que ainda faltam muitas mudanças, principalmente, na saúde e educação. Enquanto não tivermos essas mudanças básicas, a violência continuará. Eu votei no PT, mas ainda existem muitas falhas. O brasileiro deve estar sempre antenado, exigir qualidade e igualdade para todos.
Lívia – No estrangeiro, em geral, a música brasileira é vista como um selo de excelência. Como tem sido pra você atuar no mercado europeu?
Nilza – A música brasileira é uma referência fora do Brasil. Os europeus estão começando a conhecer outros gêneros musicais brasileiros, que são tantos mas poucos divulgados. A galera gosta muito do meu trabalho porque eu misturo muito os sons da nossa terra. Misturo principalmente a África que está dentro de nós. Em 2012, dois artistas italianos me chamaram para gravar um single, que se chama ‘Vício’, no qual fiz a letra e melodia.
“Os europeus estão começando a conhecer
outros gêneros musicais brasileiros,
que são tantos mas poucos divulgados”
Lívia – A turnê de lançamento de “Revolution, Rivoluzione, Revolução”, seu primeiro álbum, está rodando a Europa. Como tem sido a aceitação ao seu trabalho solo? Tem previsão de levar ao Brasil?
Nilza – Estou muito feliz com a turnê. Em novembro de 2014, estive na Alemanha e Polônia, foi muito legal, houve uma grande participação do público, que cantava em português e yorubá. Me emocionei tantíssimo em cada lugar que estive. Eles gostaram tanto que em março iremos novamente. Quanto à aceitação do meu trabalho solo está sendo muito positiva, perdi totalmente a timidez.
No Brasil, mandei alguns e-mails e encontrei um pernambucano maravilhoso que se chama Cristiano Brito, ele está trabalhando para que possamos levar esse projeto em algumas cidades. Estou ansiosa, mas sempre otimista.
Lívia – Falando ainda sobre o álbum, conta um pouco sobre como se deu o processo de composição das canções e as gravações.
Nilza – Eu estive no Studio Soundlub, em 2013, para gravar somente uma música, e eles gostaram tanto que me perguntaram porque eu não gravava um álbum. Foi uma surpresa pra mim, eu não esperava. Mas na mesma hora respondi que tinha várias canções e que era o meu sonho. Chamei os meus músicos que são maravilhosos, adoram a música brasileira e começamos a gravar. O álbum tem a participação de vários artistas de jazz da cidade de Bologna, e o Peppe Siracusa, que era meu guitarrista na época, fez a maioria dos arranjos, já que eu não toco nenhum instrumento.
O álbum tem 11 canções, das quais nove são minhas letras e melodias. O Studio Soundlub e eu somos os produtores executivos do disco e hoje eles fazem também o trabalho de booking, management etc. O disco é distribuído pela Xango Music e FonoFabrique é a Etichetta Discografica Independente. Partiparam pelo menos 15 músicos (no disco). Em fevereiro, começo a gravar o meu segundo álbum.
“O álbum tem 11 canções, das quais nove
são minhas letras e melodias. Em fevereiro,
começo a gravar o meu segundo disco“
Lívia – Por quê a escolha do título “Revolution, Rivoluzione, Revolução”?
Nilza – Eu escolhi Revolution, Rivoluzione, Revolução em três línguas porque queria fazer uma revolução dos gêneros musicais que existem no Brasil. Fazer uma “fusion”, revolucionar as ideias de mudança, de transição, etnias, sabores. O CD tem diversas línguas como português, italiano, inglês, francês, yorubá, latino, polonês e swahili. Quis fazer uma homenagem a mistura brasileira, que na verdade é uma mistura World Music. O próximo álbum se chamará Raíz
Lívia – Quem tiver interesse em adquirir o CD Revolution… pela internet como faz?
Nilza – Pode comprar através do http://nilzacosta.bandcamp.com/album/revolution-rivoluzione-revolu-o ou pelo site http://www.xangomusic.com/