2015 é o ano do México no Reino Unido e o CASA/Festival Latino Americano de Teatro homenageia o país com uma programação de espetáculos predominantemente mexicanos. No último sábado, estive presente no Festival, conferindo os espetáculos no Rich Mix, em Londres.
O fim de semana de estreia do evento, que começou no dia 2 de Outubro, contou com duas produções do México: ‘Aparte‘ (Colectivo Alebrije) e ‘Montserrat‘ (Lagartijas Tiradas al Sol).
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As semelhanças entre os espetáculos não se resumem ao fato de que ambos são do mesmo país. Tanto ‘Aparte‘ como ‘Montserrat‘ são teatro-documental, ou seja, contam suas histórias a partir das experiências pessoais dos próprios atores, que são também autores e diretores das peças.
Recursos multimidia são utilizados pelos dois grupos para contarem histórias pessoais de perda, abandono, dor, solidão e busca, que acabam por reverberar o estado político e social de seu país.
Nas duas produções, os atores esperam o público em cena. Uma tela branca, computador e outros objetos cênicos são manipulados pelos atores que mantém seus nomes verdadeiros e se valem de fatos e datas precisas, fotos e vídeos reais para encenarem suas histórias.
‘Aparte‘
A produção do Colectivo Alebrije faz um paralelo entre uma história pessoal, no caso da avó de um dos atores, e um conflito global retratado através da cidade de León, onde a tal avó nasceu, em que bairros periféricos estão desaparecendo em favor de reformas e novas práticas comerciais.
A peça utiliza recursos cênicos interessantes para mergulhar no passado dessas histórias, como um retroprojetor antigo que permite um recorte de luz único, assim como desenhos feitos ao vivo – projetados na tela e no corpo dos atores. A dramaturgia é bem estruturada com momentos fortes, como o paralelo entre o que representa a nossa pele e a importância do couro para a indústria de León. No entanto, a grande quantidade de diferentes elementos cênicos e a constante manipulação de equipamentos tecnológicos pelos atores provoca uma quebra no ritmo da peça.
‘Montserrat‘
é um solo da cia Lagartijas Tiradas al Sol sobre a busca de um homem por sua mãe. Aos seis anos Gabino recebe a notícia da morte de sua mãe, Montserrat. Vasculhar a história da vida de Montserrat torna-se sua obsessão, até que finalmente ele descobre uma carta escrita por ela que irá mudar os fatos e revelar uma grande surpresa.
Gabino começa a peça com uma carta endereçada a sua família, se desculpando por quaisquer transtornos que os fatos, que ele irá revelar, possam causar. Através de documentos em papel e da projeção de vídeos e fotos, Gabino faz um relato sincero e corajoso sobre sua busca por Montserrat. A precisão de detalhes e o tom factual se misturam a uma emoção inevitável, ao se tocar em um assunto extremamente pessoal.
Festival
O CASA continua sua programação, no Rich Mix e Barbican, até dia 11 de Outubro, e o Brasil estará representado nos dias 8 e 9, com o espetáculo carioca ‘OndeNunca Beckett‘ (confira aqui, em breve, a entrevista com o elenco).