“Moscote” é o nome do primeiro disco solo do percussionista, compositor e multi-instrumentista paulista, radicado em Salvador, Thiago Trad. Aos 37 anos (15 como integrante da banda baiana Cascadura), o músico lança álbum fruto de uma pesquisa in loco, na qual percorreu o mundo (tocando ou apenas investigando sons), em cidades como Berlim, Marrakesh, Nova Iorque, Lisboa, Paris, Buenos Aires, Montevideo, Juazeiro, Santo Amaro e Salvador (onde reside desde os 13 anos).
São as paisagens dessas andanças que foram transformadas em sons para compor os temas presentes no álbum. “Moscote” sai pela gravadora Bex Records, criada pelo próprio artista para atender às suas produções de estética experimental, e terá a distribuição digital da Sê-lo! Netlabel, especializado em trabalhos que apostam na radicalização da linguagem musical/sonora.
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A inspiração criativa de Thiago Trad transita entre cinema, música e literatura, seja na obra de Egberto Gismonti, Naná Vasconcelos, Hermeto Pascoal e Airto Moreira, ou no cinema de Glauber Rocha, Hitchcock e Tim Burton. Os sete temas que compõem o disco soam como uma trilha sonora para o universo imagético de “Moscote”, que tem na obra literária “Cem Anos de Solidão”, do escritor colombiano Gabriel García Márquez, a referência para criar um imaginário de realismo fantástico presente na estética visual do trabalho.
O resultado são pequenas suítes, com temas e sessões rítmicas surgidas a partir da livre improvisação, melodias minimalistas e harmonias modais, com dois elementos que dialogam o tempo todo, ambos tocados por Trad, que se divide entre a bateria e o piano, além das percussões presentes no disco.
“Moscote vem sendo construído ao longo de todo esse tempo que estou imerso na música. O piano foi o primeiro instrumento a surgir na minha vida, quando ainda criança aprendi as primeiras notas no colo de minha mãe, mas precisei de 30 anos para processar aquelas melodias que aprendi a ouvindo tocar. Me lembro de Beatles, Clube da Esquina, Beethoven, ela tinha um gosto mais erudito, depois a bateria chegou em minha vida, fiquei duas décadas sem me aproximar de um piano, e mergulhei na pesquisa rítmica. O disco é uma síntese desses anos todos, um encontro de todo esse universo musical.”
A ideia é passar por paisagens sonoras dilatadas no tempo, uma viagem nos sonhos do músico, que compôs parte das suítes do disco imerso no Vale do Capão (Chapada Diamantina, na Bahia). Todas as músicas são autorais, exceto a faixa “Babilônia”, composta em parceira com o Stefano Cortese.
O som de Thiago Trad transita entre as raízes da música brasileira e as diversas linguagens contemporâneas sem estabelecer fronteiras. Do deserto de Zagora ao sertão da Bahia, entre parques e metrôs de Nova Iorque, praias e favelas de Salvador, cachoeiras e florestas do Vale do Capão, “Moscote” é uma cidade vazia forjada a partir de sonhos e viagens reais, tendo como estado de criação a solidão. Timbres, texturas, efeitos, vocalizes, percussão, acordeom cigano, sopros mágicos, frequências graves e beats soam entre o hip-hop, baião, ijexá, jazz experimental, blues e maxixe. Fronteiras rítmicas que se fundem e criam um mapa sonoro essencialmente híbrido.
Gravado entre Salvador e o Vale do Capão, o disco traz uma sonoridade low-fi. A opção por registrar a bateria com apenas um microfone trouxe uma estética particular, que privilegia os sons do piano e permite uma atmosfera de experimentalismo para os improvisos dos instrumentos. A opção pela sonoridade vintage na maneira de gravar ressalta a identidade do álbum, feito boa parte com um piano acústico Yamaha e uma bateria Pinguim 68. O processo ocorreu em duas etapas, primeiro os pianos foram gravados no Vale do Capão sobre a direção do maestro italiano Stefano Cortese. O restante do disco foi produzido em Salvador, no estúdio Casa das Máquinas, do músico e produtor Tadeu Mascarenhas, que também assina a engenheira de som, produção e mixagem do disco, a masterização ficou a cargo de Fernando Sanches (El Rocha). A capa de Moscote foi inspirada na fotografia de Nathália Miranda.
O trabalho conta ainda com as participações de Nancy Viegas (voz e arte gráfica), Kiko Souza (sax e flauta), Alexandre Vieira (baixo acústico), Ldson Galter (baixo elétrico e acústico), Stefano Cortese (acordeom e arranjos), Ivan Sacerdote (Clarineta), André Borges (sax e cretinos) e Tadeu Mascarenhas (baixo elétrico e arranjos). Todos considerados habitantes desse imaginário, já que contribuíram com ideias para a construção desse o universo sonoro.