Marina Abramivić vai ao Brasil em 2015
Terminou na última segunda-feira(25), em Londres, a performance ‘Marina Abramović: 512 Horas‘ na Serpentine Gallery. Desde o dia 11 de junho, quando estreou o novo show, a “avó da performance” atraiu ao local cerca de 110.000 visitantes. Durante o mês de Agosto estive lá em duas oportunidades.
- Clique aqui para ver o vídeo da série ‘Serpentine Diaries’, onde ela fala do último dia de show
Na primeira vez, fiquei tão imersa na experiência que demorei para perceber a ausência de Abramović, que havia saído para almoçar. Resolvi fazer o mesmo e uma hora depois estava de volta, encarando a fila novamente para encontrar com a artista. Finalmente, a Abramović dos meus livros e filmes estava agora na minha presença, com seus longos cabelos negros trançados, combinando com o longo vestido preto.
Serpentine Gallery, em Londres
Ela estava imóvel em uma cadeira, olhos fechados e silenciosa, camuflada entre os visitantes. Por mais que eu soubesse que essa era uma performance para ser vivida e não havia nada para assistir ou ver, a ficha só caiu realmente nesse encontro com a artista.
Quem foi para ‘ver’ alguma coisa, com certeza saiu decepcionado. Quanto voltei na última semana (pois sabia que alguns elementos da performance mudavam diariamente), durante minha espera de 2 horas na fila, escutei uma senhora brasileira reclamando: “não consigo acreditar que eu esperei horas nessa fila pra entrar numa sala vazia e ver um monte de parede branca!”
“Nossa cultura é baseada na culpa, na pressão de fazer acontecer;
nós damos às pessoas permissão para não fazer nada
– somente estarem consigo mesmas”
A performance subverte completamente os papeis tradicionais de performer e público e coloca quem observa para ser observado e vice-versa. Esse é um trabalho que ganha vida somente no momento em que o visitante se movimenta pelo espaço e vive as pequenas ações propostas pela artista.
Abramović e seus assistentes estão ali somente para dar partida no motor e abastecer o combustível. Numa entrevista recente ao jornal inglês The Observer, ela explica o conceito de 512 Horas:
“Em 1989, eu dei uma entrevista em que disse que a arte do século 21 seria uma arte onde não existiria nada entre o artista e o visitante, que seria uma troca de energia, e foi assim que acabou acontecendo aqui. Olhar alguma coisa não é experienciar essa coisa; isso aqui é experiência. Nossa cultura é baseada na culpa, na pressão de fazer acontecer; mas aqui, nós damos as pessoas permissão para não fazer nada – para fechar seus olhos e somente estarem consigo mesmas. O que damos as pessoas são elas mesmas. O cérebro é como uma Ferrari… nós ajudamos a desacelerá-lo.”
Na fila para conferir a performance pela primeira vez
Unplugged
Ao entrar na galeria, a instrução é deixar por ali o celular, relógio e qualquer objeto que possa ser uma distração. Recebi um fone de ouvido que, ao invés de ser ferramenta para a transmissão de algum tipo de instrução, música ou história, servia para bloquear todo o som externo. Ao colocar o fone minha perspectiva mudou completamente, minha própria respiração ficou evidenciada e pude escutar o silêncio.
Na sala principal algumas pessoas caminhavam enquanto outras somente paravam, em pé ou sentados. No centro da sala foi colocado uma espécie de palco de madeira num formato que lembrava uma cruz ou, segundo a amiga que me acompanhava, lembrava a representação do primeiro chakra (ou chakra raiz). Abramović e seu assistentes levavam algumas pessoas para o ‘palco’ e sinalizavam que fechassem os olhos.
Nas duas salas adjacentes, os visitantes eram convidados a realizarem ações simples como deitar numa maca, caminhar pelo espaço lentamente, caminhar de olhos vendados, sentar numa daquelas mesinhas de escola para contar e separar as lentilhas do arroz (contei 615 lentilhas, mas quando estava na metade do arroz, a echarpe de uma moça voou pela minha mesa misturando tudo novamente!).
110.000 pessoas foram conferir o show Marina Abramović: 512 Horas, em Londres
A avó da performance
Abramović é notoriamente famosa pelas suas performances radicais como Rhythem 0, no qual na década de 70, ela disponibilizou uma mesa com 72 objetos para o público usar nela como desejasse – entre eles um revolver carregado – e A Artista está Presente (The Arist is Present), onde no MoMa de Nova York em 2010, ela sentou passivamente por 700 horas enquanto o público se revezava para sentar na sua frente.
No entanto, Abramović considera 512 Horas seu trabalho mais profundo até hoje. Usando o que ela chama de Método Abramović – uma série de exercícios destinados a aumentar a consciência da experiência física e mental no momento presente dos participantes – a artista testa não apenas seus próprios limites mas cria uma obra onde o visitante faz o mesmo.
Demorou três anos para Abramović se recuperar do seu show A Artista Está Presente e nesse momento ela já está de volta a sua casa em Nova York para um retiro de 10 dias – onde ficará isolada de qualquer contato humano recompondo suas energias.
Abramović no Brasil
Os brasileiros terão a oportunidade de ver um trabalho inédito da artista em março de 2015 em São Paulo, no Sesc Pompéia e uma grande retrospectiva de sua obra no Sesc Belenzinho. A artista viaja ao Brasil desde 1989 em busca de lugares com poder energético, de pessoas com poder, como João de Deus e rituais indígenas como o com ayahuasca. Marquem na agenda essa data porque Marina Abramović está pronta para mostrar seu trabalho ao Brasil!